O Estádio da Luz foi o palco para mais um clássico do futebol português, um jogo que opôs o Benfica ao FC Porto, referente à 11ª jornada do campeonato da I Liga e que terminou com uma goleada dos encarnados, vencendo por 4-1, um resultado com um desequilíbrio que as águias já não conseguiam impor aos dragões há seis décadas, confrontando o clube da Invicta com o “Inferno da Luz” em que se transformou o relvado da Luz, o mesmo recinto que no passado foi classificado pelos portistas como o seu “salão de festas” pelos resultados positivos que FC Porto já ali conseguiu.
Desta feita, porém, a equipa azul e branca, a jogar sem garra e pouca intensidade, foi batida copiosamente pela formação às ordens de Bruno Lage num jogo em que os lances de perigo para as balizas foram quase exclusivamente construídos pelo Benfica, tendo o FC Porto marcado mas à custa de um erro crasso do argentino Otamendi. O “capitão” benfiquista deu uma verdadeira fífia depois de um cruzamento de Francisco Moura, aproveitada pelo jovem avançado espanhol Samu com o golo portista, ele que faturou neste clássico antes de avançar para a seleção principal espanhola que vai poder representar pela primeira, uma chamada determinada pelas excelentes exibições que tem vindo a fazer pelos dragões.
Num jogo que logo no arranque teve que ser interrompido pelo árbitro João Pinheiro, devido ao muito fumo provocado pela claque dos Diabos Vermelhos, o FC Porto começou por trocar as voltas à equipa do Benfica já que, na escolha de campo e bola, os dragões obrigaram as águias a começar o jogo atacando para a baliza sul, algo que normalmente não acontece nos jogos no Estádio da Luz em que os encarnados começam as partidas a jogar de sul para norte. Sentidos do jogo à parte, a velocidade imposta pelas duas equipas começou particularmente elevada, com o FC Porto a procurar soltar Samu em velocidade nas costas da defesa benfiquista, respondendo a equipa da casa com ataques mais consolidados apostando na largura da linha ofensiva.
Do lado do Benfica, com uma equipa formada por quatro defesas — Bah, Tomás Araújo, Otamendi e Carreras —, três homens no meio-campo, nomeadamente Florentino à frente dos centrais, com Aursnes e Kokçu a jogarem subidos no terreno, e ainda Di Maria e Akturkoglu a ladearem Pavlidis, a equipa encarnada apostou desde o início em jogar com as suas linhas muito subidas, tirando o melhor partido dessa opção e impedindo que o FC Porto conseguisse construir lances ofensivos perto da baliza de Trubin.
Erro de João Pinheiro
impede golo a Pavlidis
O Benfica entrou assim muito melhor no jogo, colocando mais intensidade no jogo e ganhando quase sempre a discussão da primeira ou segunda bola, e ao minuto 19’ os encarnados conseguiram mesmo colocar a bola no fundo das redes da baliza à guarda de Diogo Costa. Os adeptos festejaram o que foi tido como o primeiro golo do jogo, mas a verdade é que o árbitro João Pinheiro tinha entretanto assinalado uma falta sobre Akturkoglu.
O turco foi efectivamente carregado em frente à grande-área do FC Porto, mas no seguimento do lance o grego Pavlidis conseguiu fazer um toque decisivo na bola, enviando a bola para o fundo da baliza portista com um chapéu a Diogo Costa. O problema para os encarnados é que João Pinheiro fez valer o facto de ter apitado antes do derradeiro toque de Pavlidis na bola, não deixou seguir o jogo, beneficiou claramente o infrator e o golo davançado grego do Benfica não contou, um erro claro do árbitro do jogo que nem sequer deixou possibilidade para a intervenção do VAR já que apitou antes da bola entrar na baliza de Diogo Costa.
Certo é que o Benfica estava por esta altura claramente melhor do que o FC Porto, ainda assim num jogo que, pela sua condição de “clássico”, permitia uma tripla para quem por esta altura quisesse apostar no resultado final. Do lado do FC Porto, o técnico Vítor Bruno apresentou uma equipa com Diogo Costa entre os postes, Martim Fernandes, Nehuén Pérez, Tiago Djaló e Francisco Moura na defesa, ainda Alan Varela, Stephen Eustaquio e Nico González na linha média, com Fábio Vieira e Galeno a aparecerem como extremos no apoio a Samu, o ponta-de lança espanhol dos dragões, um esquema tático aparentemente idêntico ao dos encarnados mas com Samu mais isolado na frente e uma linha média mais compacta comparativamente com o trio de médios do Benfica.
À passagem da meia-hora, Álvaro Carreras, ele que já tinha tentado receber a bola em dentro da área em condições para visar a baliza do FC Porto, conseguiu desta feita fazê-lo a preceito e, depois de um toque na bola em que fletiu para dentro, rematou com o pé direito batendo Diogo Costa, abrindo a contagem com um golo que colocou todo o Estádio da Luz em polvorosa.
O Benfica mantinha o seu domínio no jogo e pouco depois era Akturkoglu quem conseguia uma arrancada a partir da linha de meio-campo, voltando a ultrapassar com facilidade aparente a defesa portista, num lance que só não resultou no segundo golo para os encarnados porque entretanto Kokçu foi apanhado em posição irregular.
Falha grosseira de Otamendi
oferece o golo ao portista Samu
Ao minuto 43’, e depois do jogo ter estado parado devido a uma “tochada” por parte dos No Name Boys a partir das bancadas atrás da baliza de Diogo Costa, com tochas atiradas para dentro das quatro linhas, o que obrigou o árbitro João Pinheiro a parar o jogo e permitiu aos dragões recuperarem alguma tranquilidade, o FC Porto chegou ao golo da igualdade, de algum modo contra o que vinha a ser a corrente do jogo.
Num lance construído a partir do lado esquerdo do ataque portista, um cruzamento fraco de Francisco Moura levou a bola para a pequena-área dos encarnados onde Otamendi, com um falhanço colossal, deixou passar a bola por baixo do pé e Samu, sem oposição, só teve que encostar para o golo do empate, uma falha do capitão dos encarnados, mais uma esta época, a comprometer o bom jogo que o Benfica vinha a conseguir até então.
O clássico foi assim para intervalo com as duas equipas empatadas a um golo, um resultado já então enganador pois tinha sido o Benfica quem havia construído mais frente a um adversário que não conseguia responder a preceito. Acabou assim a equipa da casa por chegar “naturalmente” ao segundo golo, ao minuto 55’, marcado por Di Maria depois de um passe magistral de Aursnes, com o argentino a bater Diogo Costa e a colocar de novo o Benfica na frente do marcador. O jogo voltava a estar bem vivo, muito disputado, mas a exemplo do que acontecera no primeiro tempo voltava a ser a equipa da casa que aparecia por cima, chegando mesmo a instalar-se no meio-campo defensivo dos dragões.
Acabou assim por surgir naturalmente mais um golo para o Benfica ao minuto 61’, agora aparentemente marcado por Pavlidis, num lance em que o grego aparece a escorregar dentro da pequena-área, em frente a Diogo Costa, respondendo a preceito a um cruzamento de Bah num lance em que a bola ainda bate em Nehuén Perez antes de entrar na baliza portista. A Liga de Clubes começou por atribuir o golo a Pavlidis, mas o último jogador a tocar na bola foi mesmo o central do FC Porto, acabando a Liga por corrigir para “dar” o auto-golo ao central portista. Certo mesmo é que o Benfica passava a vencer por 3-1, deixando o conjunto portista cada vez mais arredado da discussão pelo desfecho deste clássico.
Vítor Bruno incapaz de mudar
o jogo medíocre do FC Porto
Vítor Bruno, o treinador portista, via-se obrigado a mudar algo na sua equipa, apostando nas entradas de João Mário e Pepê, saindo Martim Fernandes e Stephen Eustáquio. Só que o lateral pouco ou nada conseguiu fazer perante o bom momento em que o Benfica já se encontrava e o médio brasileiro, que começou por ficar de fora do onze inicial depois de ter sido afectado por uma gastrite na véspera do jogo, também ele não conseguiu trazer grande novidade ao jogo da turma portista. Ainda assim, já frente a este “renovado” FC Porto, o Benfica cometeu mais uma falha monstruosa, agora por Aursnes, ele que fez um atraso de bola para Trubin esquecendo-se que Samu estava ali bem à frente da baliza dos encarnados. Só que o próprio avançado espanhol foi surpreendido pelo erro de Aursnes e não conseguiu atempadamente à bola para o que poderia ter sido o segundo golo portista na Luz.
O Benfica mantinha-se na frente do marcador por dois golos (3-1) e Bruno Lage determinava a primeira mexida na sua equipa, com a entrada de Beste para a saída de Akturkoglu, com este a sair francamente contrariado, tirando a sua camisola ao chegar ao banco de suplentes e atirando-a para os adeptos evidenciando um claro desagrado, isto num Estádio da Luz com 63.342 adeptos nas bancadas naquela que foi a melhor assistência no recinto encarnado na presente temporada.
Curiosamente, no momento da substituição chegou a ser indicado o número de Di Maria para a saída, tendo Bruno Lage corrigido as indicações para a alteração na equipa, o que não terá sido bem entendido por Akturkoglu. O extremo argentino ficou em campo e João Pinheiro, devido ao erro da equipa técnica dos encarnados, mostrou o cartão amarelo ao adjunto Ricardo Rocha depois daquele episódio de indecisão a partir da linha lateral.
O alemão Jan-Niklas Beste entrou assim em campo ao minuto 75′ e cinco minutos depois Otamendi, o mesmo que permitira o golo do FC Porto ainda no primeiro tempo, acabou por ser carregado dentro da área portista, num lance em que Alan Varela, porventura um dos jogadores da formação visitante que conseguiu uma exibição de melhor nível, acabou por atingir o central do Benfica com um pontapé no rosto dentro da área de baliza do FC Porto. Bem colocado, o árbitro João Pinheiro assinalou de imediato a grande penalidade e, chamado a converter o castigo máximo, ao minuto 82′, Di Maria pôde bisar neste jogo, fechando o resultado em 4-1, um “score” que o Benfica já não conseguia perante os dragões há mais de 60 anos.
“Bis” de Di Maria deu o mote
para o “Cheira Bem, Cheira a Lisboa”
Nas bancadas do Estádio da Luz cantava-se “Cheira Bem Cheira a Lisboa”, o presidente do FC Porto, André Villas Boas, abandonava a tribuna presidencial, e dentro das quatro linhas o técnico benfiquista Bruno Lage voltava a mexer na sua equipa, apostando agora em Renato Sanches e Arthur Cabral, para as saídas de Kokçu e Pavlidis. Na resposta por parte da equipa visitante, Vítor Bruno tentava ainda jogar as últimas cartadas e chamava ao jogo Gonçalo Borges por troca com Fábio Vieira, numa altura em que era visível algum descontrolo portista.
Bruno Lage voltava a mexer, ao minuto 88’, retirando do jogo dois dos melhores elementos neste jogo permitindo-lhes receberem os aplausos do público – Di Maria e Aursnes –, para dar alguns minutos a Amdouni e Rollheiser, já com o Estádio da Luz a viver um ambiente de euforia em face da goleada dos encarnados ao FC Porto.
O árbitro João Pinheiro deu mais três minutos de compensação que se passaram sem mais detalhes dignos de registo, ouvindo-se o apito do árbitro a dar por concluído o jogo com uma vitória inteiramente justificada por parte do Benfica, frente a uma formação azul-e-branca que raramente conseguiu criar lances de perigo para Trubin, saindo do relvado da Luz depois de uma exibição demasiado frouxa, sem garra nem intensidade e a merecer muitas críticas por parte dos adeptos portistas que marcaram presença no topo norte das bancadas do recinto encarnado.
Curiosamente, e apesar do jogo menos positivo assinado neste clássico por parte do FC Porto, a formação às ordens de Vítor Bruno está a protagonizar este ano o melhor início de época à 11ª jornada dos últimos três anos, isto porque em 2022/23 somava por esta altura 23 pontos, na temporada de 2023-24 tinha 25 pontos, sendo que esta época possui já 27 pontos após os mesmos onze jogos. Já o Benfica soma 25 pontos, mas numa altura em que tem ainda por realizar o jogo com o Nacional, partida referente à oitava jornada, a qual foi remarcada para o próximo dia 19 do corrente mês devido ao nevoeiro que se abateu sobre o Estádio da Madeira, na Choupana.