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Sporting perde em Alvalade com o Santa Clara (0-1)

Num jogo em que os leões acusaram nervosismo, falta de intensidade e completa ausência de ideias, e em que, a bem da verdade, encontraram uma arbitragem deficiente que ignorou duas grandes penalidades que deveriam ter sido assinaladas se tivesse existido um VAR mais atento, o Sporting consentiu a primeira derrota para o campeonato depois de 32 jogos, tendo ficado sem marcar qualquer golo, o que também não acontecia nesta competição há 53 partidas. Tudo isto aconteceu no primeiro jogo com João Pereira à frente da equipa leonina, frente à equipa-sensação deste campeonato, o Santa Clara, que na época em que regressou ao convívio dos grandes vindo da II Liga está num tranquilo quarto posto, uma equipa que fez dos remates enquadrados e em um deles marcou o golo que lhe permitiu vencer e somar os três pontos.

Há que dizer, ainda assim, que o Sporting revelou estar afectado por um qualquer síndrome gripal que o derrubou, deitando por terra aquele Sporting a que estávamos habituados há poucas semanas atrás. Para além de Franco Israel ter ficado fora dos convocados, esse de facto com gripe, depois de uma exibição desastrosa na última terça-feira frente ao Arsenal em que os leões perderam por 5-1 em jogo da Champions, outros elementos que alinharam frente ao Santa Clara mostraram falta de força, algum desânimo e completa ausência de ideias, como se de repente tivessem sido também eles afectados por uma gripe incapacitante que os deixou muito longe daquilo que vinham a conseguir ainda sob o comando de Ruben Amorim.

Kovacevic revelou uma enorme tremideira na baliza e só não esteve pior porque, a bem da verdade, o Santa Clara não teve oportunidade de o testar muitas vezes, Gonçalo Inácio esteve muitos furos abaixo do que sabe, Edwards voltou a estar “ausente” das quatro linhas mesmo tendo sido titular, Quenda foi neste jogo uma sombra de si mesmo, Trincão nunca se encontrou durante o jogo e Gyokeres, sem chama, raramente conseguiu os espaços e as situações que ele tanto gosta, acabando por falhar golos de baliza escancarada, como aconteceu ao minuto 69 quando teve uma assistência perfeita de Conrad Harder e falhou o cabeceamento que tinha tudo para dar golo., tudo isto numa equipa sem energia e com ausência de ideias, bem diferente, afinal, do que era há poucas semanas antes da mudança das equipa técnica.

É um facto que nem tudo foram erros do Sporting, e pelo menos por duas vezes a equipa de arbitragem ignorou duas grandes penalidades claras, tendo em outra situação invertido uma grande penalidade com a intervenção do VAR que, no nosso entender, deixou ainda assim grandes dúvidas se o guarda-redes Gabriel Batista não derruba mesmo Morita com a canela antes de desviar a bola com a sua mão direita. Houve atenuantes para a má prestação dos leões, mas a verdade é que estes tinham obrigação de fazer mais e melhor, acabando por consentir uma derrota que vem reabrir a discussão do campeonato e aumentar as incertezas quanto à capacidade de João Pereira para assumir o comando de um conjunto campeão nacional, temido na Europa e até aqui invencível em Portugal, e que ameaça tornar-se uma equipa apenas normal sem a presença do seu verdadeiro líder que era Rúben Amorim.

Franco Israel ausente com gripe
em equipa leonina com cinco mudanças

Na formação do onze para este jogo, e poucos dias depois da pesada derrota imposta pelo Arsenal no jogo referente à quinta ronda da Liga dos Campeões, João Pereira, que se estreava nesta partida à frente dos leões em jogos para o campeonato da I Liga, surpreendeu desde logo na forma como estruturou o onze, impondo cinco mudanças relativamente aos titulares que alinharam frente ao Arsenal. Desde logo na baliza, Kovacevic surgiu na equipa inicial, com o Sporting a justificar a ausência de Franco Israel por estar com gripe, isto depois do guardião uruguaio ter assinado uma prestação deficiente e muito contestada pelos adeptos. Só que as mudanças não se ficaram pela posição de guarda-redes.

Gonçalo Inácio deu o seu lugar a Matheus Reis, St. Juste também ficou de fora para a entrada de Debast, Morita, também ele ausente no onze inicial, foi preterido em favor de Daniel Bragança e Maxi Araújo começou o jogo no banco de suplentes já que na equipa inicial surgiu Geny Catamo.

Do lado do Santa Clara, o actual quarto classificado da I Liga à partida para este jogo com 21 pontos, surgiu em Alvalade com Gabriel Batista entre os postes, Matheus Pereira, Mateus Araújo, Luís Rocha, Frederico Venâncio e Diogo Calila numa linha defensiva com cinco elementos em que os laterais procuravam subir no terreno em situações de posse de bola, ainda Serginho e Adriano na linha média, com Vinicius e Gustavo a procurarem criar as condições para o avançado Safira surgir juntos da defesa leonina.

Aos nove minutos, no primeiro lance em que Kovacevic foi posto à prova, ficou evidente uma enorme tremideira, com um erro crasso a colocar a bola nos pés de um homem do Santa Clara, valendo ao Sporting o facto da turma açoriana não ter aproveitado a desorientação do guarda-redes bósnio dos leões. Pouco depois, num atraso feito quase do meio-campo por Debast para o seu guarda-redes, uma vez mais Kovacevic deu conta de alguma falta de concentração ao deixar sair a bola pela linha de fundo, concedendo um pontapé de canto quando tinha todas as condições para controlar a bola já que não estava pressionado.

Penálti “perdoado” ao Santa Clara
por falta de Vinicius sobre Catamo

À passagem do primeiro quarto-de-hora, Geny Catamo foi atingido dentro da área por Vinícius, do Santa Clara, e os leões ficaram a reclamar uma grande penalidade que, no nosso entender, ficou por assinalar já que Catamo foi abalroado com um choque na perna de uma forma que deveria ter sido sancionada com uma falta dentro da área, o que daria o castigo máximo. Primeiro erro do árbitro Cláudio Pereira neste jogo, que terá considerado uma carga de ombro que claramente não aconteceu, com os leões a protestarem a prestação da equipa de arbitragem, até porque na sequência do lance da grande penalidade não assinalada houve uma falta de Trincão a meio-campo, idêntica à que fora cometida sobre Catamo, e ali o árbitro já assinalou a falta.

O jogo prosseguiu com as duas equipas a imporem alguma velocidade na partida, com o Sporting a jogar quase sempre com 10 elementos sobre o meio-campo do Santa Clara, ficando lá atrás apenas o guarda-redes Kovacevic, procurando a equipa visitante responder a espaços de uma forma mais lenta, mas nem por isso menos perigosa nas poucas vezes em que os elementos da equipa às ordens de Vasco Matos conseguiram espaço para entradas mais assertivas junto do sector defensivo leonino.

À passagem do minuto 33’, num lance em que o Sporting não conseguiu impedir a troca de bola entre os homens do Santa Clara, Vinícius, o mesmo elemento que tinha tirado Catamo da jogada na área açoriana ao quarto-de-hora, voltou a ser determinante quando teve a bola ao seu alcance em zona frontal à entrada da área dos leões e, depois de tirar dois centrais do Sporting da sua frente, desferiu um remate certeiro, batendo Kovacevic e fazendo o golo inaugural do jogo. O guarda-redes dos leões nada podia fazer neste caso perante a liberdade que o jogador do Santa Clara teve para rematar, faltou pressão da equipa do Sporting a meio-campo, na defesa foram dois homens a deixar passar Vinícius, nomeadamente Debast e Diomande, e a turma açoriana, no primeiro remate feito de forma enquadrada à baliza do Sporting, adiantou-se no marcador.

A perder, a equipa da casa quis manter um maior ímpeto ofensivo, jogando sempre mais perto da baliza à guarda de Gabriel Batista, mas ficava evidente que a finalização dos lances por parte dos homens do Sporting não surgia nem de perto tão assertiva quanto os adeptos leoninos gostariam. À passagem do minuto 43’ foi Daniel Bragança a cair dentro da área do Santa Clara, mas numa disputa de bola com um jogador açoriano em que a bola acabou prensada pelos dois jogadores sem que houvesse motivo para o assinalar de qualquer falta.

Novo penálti ignorado pelo VAR
agora por falta do açoriano Safira

Antes do intervalo, nova queda dentro da área mas agora propositada por parte de um homem do Santa Clara, Alisson Safira, ele que se atirou para o chão para interceptar a bola para travar um remate de Gyokeres, acabando por o fazer com o braço num lance em que deveria dar lugar uma vez mais a uma grande penalidade. O árbitro Cláudio Pereira nada assinalou e o VAR Hélder Carvalho também ignorou o lance, isto apesar dos protestos de Gyokeres que percebeu claramente a atitude do seu adversário na forma como impediu a saída do remate.

Num jogo cada vez mais quezilento, com o árbitro Cláudio Pereira a ter que se socorrer de diversas exibições do cartão amarelo para “segurar” a partida, o intervalo acabou por chegar numa altura em que o Sporting insistia em lances de ataque junto à baliza de Gabriel Batista, mas sem conseguir ter resultados práticos num jogo que permitiu ao Santa Clara recolher aos balneários para o intervalo em vantagem no marcador.

E se é verdade que os leões foram sempre dominadores no jogo, em posse de bola e na forma como se instalou no meio-campo do Santa Clara, também é um facto que a turma visitante foi altamente eficaz, conseguindo o golo no único remate digno desse nome à baliza de Kovacevic, e segurando depois todas as incursões do Sporting à grande-área dos açorianos.

Edwards e Quenda ficaram
no balneário ao intervalo

A partir dos balneários, e com o Sporting a perder ao intervalo, algo que já não acontecia em jogos para o campeonato da I Liga desde Maio de 2023, curiosamente num jogo em que os leões acabaram por vencer o Marítimo por 2-1, o técnico João Pereira impôs duas mudanças na equipa leonina, com as saídas de Quenda e Edwards para serem chamados ao jogo Maxi Araújo e Conrad Harder. Os adeptos do Sporting gostaram da decisão do treinador em deixar de fora Edwards, mantendo o apoio à equipa campeã nacional que tinha neste segundo tempo a missão de dar a volta ao marcador.

Ao minuto 54’, Gyokeres testou a defesa do Santa Clara com um pontapé acrobático, ao estilo de uma bicicleta mais pequena na pequena-área da baliza açoriana, mas a bola ficou nas mãos de Gabriel Batista. João Pereira, a partir do banco de suplentes, numa das poucas vezes em que se levantou, deu um grito de incentivo para os seus jogadores, mas era a equipa visitante que mostrava maior discernimento e tranquilidade, apoiado pelo facto de estar em vantagem no marcador.

Ao ritmo da passagem dos minutos era evidente o maior nervosismo sobre os homens do Sporting, proporcional à forma mais fluida com que o Santa Clara ia conseguindo desenvolver o seu jogo. Ao minuto 60’ Vasco Matos chamou ao jogo Lucas Soares por troca com Gonçalo Klinsman, respondendo João Pereira com a aposta agora em dois centrais, colocando em jogo St. Juste e Gonçalo Inácio para as saídas de Matheus Reis e Debast. O jogo continua “preso” no meio-campo e aos 67’ minutos, na equipa do Santa Clara, Safira deixava as quatro linhas para a entrada de Bruno Almeida. Dois minutos depois, num lance ofensivo do Sporting, Conrad Harder fez um cruzamento tenso para a pequena-área do Santa Clara, aparecendo Gyokeres em voo a cabecear a bola… para fora da baliza que estava escancarada à sua mercê.

O avançado sueco teve tudo para fazer o golo mas falhou de uma forma grosseira aquele que seria o golo do empate neste jogo. Vasco Matos sentia que precisava de colocar mais sangue fresco na sua equipa e apostava então, ao minuto 73, em Daniel Borges e Pedro Ferreira, saindo Serginho e Diogo Calila.

As coisas corriam tudo menos bem ao Sporting e ao minuto 75’ Gyokeres via mesmo um cartão amarelo por protestos depois de uma situação em que o sueco caiu dentro da área, protestou por nada ter sido assinalado, e o árbitro Cláudio Pereira considerou que houve uma falta ofensiva, recebendo por essa decisão uma enorme vaia a partir das bancadas de Alvalade. Dois minutos depois, João Pereira esgotava as alterações, apostando em Morita para o lugar de Hjulmand. Só que o Sporting, mesmo instalado no meio-campo adversário, não conseguia mais do que experimentar cruzamentos sem sucesso face à boa colocação do sector mais recuado da turma do Santa Clara.

Árbitro assinalou penálti para o Sporting
mas reverteu a decisão por indicação do VAR

Ao minuto 83’ o árbitro Cláudio Pereira assinala grande penalidade depois de Gabriel ter feito um corte dentro da área sobre Morita. O juíz da partida rapidamente apontou para a marca dos onze metros, mas depois de muitos protestos dos homens do Santa Clara, com o guarda-redes a ver o cartão amarelo por ser um dos que mais protestou, o árbitro foi rever o lance no ecrã do VAR e decidiu que Gabriel Batista não cometeu falta, considerando que houve o corte da bola não sendo por isso motivo para o assinalar de qualquer falta.

Refira-se que no nosso entender, Gabriel Batista derrubou Morita com a canela no momento em que deslizou sobre o relvado antes mesmo de conseguir desviar a bola, retirando-a do alcance do jogador nipónico. O árbitro não teve esse entendimento, considerou que houve mesmo a defesa da bola por parte do guarda-redes e reverteu a decisão do castigo máximo, prosseguindo o jogo com a reposição da bola em posse para o guardião dos açorianos.

O Santa Clara, que até ali, já bem perto do final do jogo, só por uma vez tinha feito um remate à baliza do Sporting, no lance em que conseguiu o golo de Vinícius, voltou a andar perto do golo, finalmente, sobre o minuto 89’, quando Daniel Borges conseguiu ultrapassar tudo e todos na defesa do Sporting, ficou em frente a Kovacevic e falhou depois o que já parecia ser o mais fácil que era o golo, perante a total apatia de St. Juste e Gonçalo Inácio.

O árbitro deu entretanto mais oito minutos de compensação, o Sporting voltou a andar perto do golo, St. Juste cabeceou uma bola que passou bem perto do poste direito da baliza do Santa Clara, mas em termos práticos era a equipa visitante que continuava na frente do marcador, uma vantagem que manteve até ao apito final do árbitro, consumando-se a primeira derrota dos leões no presente campeonato e logo na estreia de João Pereira à frente da equipa em jogos da I Liga.

Em causa fica a capacidade do novo técnico leonino em agarrar o comando de uma equipa de primeira linha quando nunca antes teve a experiência de orientar uma formação deste nível, deixando afinal espaço aberto para a contestação de uma decisão que coube apenas e só ao presidente do Sporting, Frederico Varandas, que desde a primeira hora apontou a João Pereira para substituir Ruben Amorim quando este fez as malas para se mudar para o Manchester United.

O Sporting terá agora pela frente mais um jogo complicado, na próxima quinta-feira no terreno do Moreirense, referente à 13ª jornada do campeonato da I Liga, onde um novo desaire poderá abrir uma crise mais ou menos profunda em Alvalade, podendo mesmo colocar em causa a liderança do Sporting na competição maior do futebol português, motivo pelo qual a pressão será enorme sobre os comandados de João Pereira. Já o Santa Clara, agora ainda mais tranquilo no quarto lugar do campeonato, recebe a turma do Rio Ave no próximo sábado em São Miguel, nos Açores, num jogo, afinal, do “seu” campeonato.

texto: Jorge Reis
fotos: Diogo Faria Reis

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