Se é verdade que nem tudo o que parece é, também é um facto que o que apenas parece poder ser resulta em bem mais do que a aparência. Isso mesmo é o que sentimos ao falar de “Vender o País”, afinal apenas um tema musical que surge como o primeiro single do disco de estreia de Romain Valentino, a lançar no próximo mês de maio.
Romain Valentino, cantor, guitarrista e compositor nascido em Itália de pais franceses que escolheu a cidade do Porto como sua residência, apresenta assim “Vender o País”, como o primeiro single do álbum de estreia “L’Étoile et le Chariot”, com produção musical do guitarrista Telmo Sousa. A canção, escrita de uma só vez na intimidade do isolamento de 2020, em pleno período de pandemia, acaba por ser algo mais, um desabafo no qual ferve o desejo de um imigrante em construir uma existência genuinamente coletiva, um “país” que possa ser casa para todos.
O videoclipe, realizado por André Sousa, foi gravado entre Agosto de 2023 e Novembro de 2024 em locais como a Casa do Salgueiros (Porto), a ria de Aveiro, o Castro de S. Paio e outros, e conta com a participação de três dezenas de pessoas, entre profissionais e amigos. O vídeo integra também imagens da manifestação pelo direito à habitação sob o lema Casas Para Viver, que decorreu no Porto, no dia 1 de Abril de 2023, por cortesia de Maite Calvo.
Instado a dar conta do que esteve por trás desta letra, Romain Valentino fala de “uma paixão reivindicativa” em redor do “direito à habitação”. “Escrevi a letra de Vender o País movido pela urgência de pôr em palavras um sentimento de indignação e uma paixão reivindicativa que eu sentia, mas sugestionado ao mesmo tempo por dúvidas e preconceitos sobre a minha legitimidade para abordar assuntos políticos, especialmente em música, e sobre a minha posição para falar do “país” enquanto imigrante”, diz.
“Há um contexto relevante que tem a ver com o meu interesse crescente pela questão do direito à habitação, que só muito tempo depois de escrever a canção se concretizou na minha entrada na organização Habitação Hoje, de que já fazia parte na altura da manifestação cujas imagens estão integradas no vídeo”, conclui.
De destacar a ilustração da capa do single, da autoria de Julieta Ruiz Argañaraz, num trabalho de um músico que construiu a sua trajetória musical “alimentada” pelos sons do samba, choro, canzone napolitana, jazz-manouche, nueva canción, chanson française, maloya, e outras sonoridades e ritmos.
