Aparentemente formatada para os jogos ditos “grandes”, a equipa do Benfica, que ainda no passado fim de semana venceu o FC Porto, no Dragão, por 4-1, consentiu este domingo um empate no Estádio da Luz, por 2-2, frente ao Arouca, num jogo em que esteve por duas vezes em vantagem mas em que permitiu que a turma orientada por Vasco Seabra conseguisse a repartição de pontos, retirando desse modo os encarnados da liderança isolada do campeonato da I Liga numa altura em que faltam apenas cinco jornadas para o final do campeonato.
Num jogo em que a prestação do árbitro António Nobre ficou claramente ligada ao resultado final, isto porque assinalou uma grande penalidade que não existiu, tendo sido “cavada” por Jason sobre Otamendi – o próprio VAR deu indicações ao árbitro para rever o lance mas este entendeu que Otamendi rasteirou o jogador do Arouca “com a cabeça” (!!) –, o Benfica conseguiu ainda assim soltar de novo para a liderança do resultado depois desse castigo máximo, acabando por ser batida já nos minutos de compensação, sendo traída pelo seu excesso de confiança quando acharia que o jogo estava resolvido. O Arouca acreditou até ao fim, conseguiu roubar pontos ao Benfica, e a total incerteza quanto ao desfecho do campeonato volta agora a numa competição em que Sporting e Benfica estão de novo em igualdade pontual (69) na frente da I Liga.











Olhando para o filme do jogo, iniciado depois de ter sido cumprido um minuto de silêncio em memória de Aurélio Pereira, o “Senhor Formação” falecido na passada semana, à passagem do primeiro quarto de hora o Benfica tinha já construído e desperdiçado pelo menos três oportunidades claras de golo, com a bola a passar sobre a linha de baliza sem que nenhum jogador dos encarnados conseguisse desviar a sua trajectória. Ficava ainda assim claro que seria uma questão de tempo até os encarnados chegarem ao primeiro golo, tal era a superioridade do Benfica face ao Arouca que não conseguia sequer subir ao meio-campo defensivo da formação da casa. Com o seu melhor onze, com Tomás Araújo, Otamendi, António Silva e Carreras à frente de Trubin, ainda Kokçu, Florentino e Aursnes na linha média, aparecendo na frente Di Maria e Akturkoglu no apoio a Pavlidis, o Benfica dominava e construía os melhores lances, face a um Arouca que apenas a espaços conseguia algumas incursões no mio-campo encarnados, mas sem levar perigo à baliza de Trubin.
Decorrida a primeira meia-hora de jogo, apesar do maior domínio territorial e de ter mais posse de bola, a verdade é que o Benfica continuava sem conseguir materializar esses argumentos, mantendo-se por isso a igualdade sem golos num jogo ainda assim de sentido único. Nas bancadas, os elementos dos No Name Boys acendiam algumas tochas, ainda que desta vez não as tenham lançado para o relvado, isto enquanto o jogo entrava numa fase bem mais morna. A jogar em 4x4x2, o Arouca conseguia anular as incursões dos encarnados que, à passagem do minuto 37’, viam a bola bater no poste esquerdo da baliza à guarda de Mantl, depois de um brilhante apontamento de Vangelis Pavlidis, naquele que foi até então o lance em que o Benfica esteve mais perto de inaugurar o marcador.











Sendo certo que se mantinha a sensação de que seria uma questão de tempo até que o Benfica chegasse ao primeiro golo, a verdade é que o Arouca ia conseguindo anular as iniciativas dos pupilos de Bruno Lage, permitindo alguma ansiedade nas bancadas do Estádio da Luz onde os adeptos pretendiam ver a sua equipa assumir a liderança do marcador. Contra as evidências da partida, o Arouca foi aguentando o nulo e permitiu mesmo que o jogo chegasse ao final do primeiro tempo com o empate a zero a prevalecer, sem dúvida de uma forma lisonjeira para o Arouca.
“Nulo” ao intervalo indicava
a falta de eficácia do Benfica
Para o segundo tempo, nenhum dos técnicos determinou mudanças nas respectivas equipas, no Benfica porque estava a dominar e apresentava uma exibição consistente, e no Arouca porque, apesar de não conseguir causar desequilíbrios no jogo, mantinha a sua baliza inviolada e queria acreditar que poderia surpreender a formação encarnada agora na etapa complementar.
Todavia, o Arouca entrou em campo claramente melhor na etapa complementar, a jogar de forma mais organizada e apresentando mesmo maior ousadia, conseguindo subir no terreno e ganhando logo dois pontapés de canto no reatar da partida. Conseguia assim o Arouca anular bem mais cedo o jogo colectivo do Benfica, que tardava em conseguir as melhores combinações e começava mesmo a sentir a ansiedade por parte dos adeptos nas bancadas para dentro das quatro linhas.
À passagem da hora de jogo, finalmente, depois de uma excelente incursão de Carreras pelo corredor esquerdo, levando a bola até dentro da área do Arouca, fez o passe para Aursnes que, de primeira, serviu Kokçu para um remate colocado sem hipótese de defesa para Mantl. Num “tiki tava” de grande qualidade, o Benfica conseguia assim abrir o marcador, num jogo em que logo a seguir foi Di Maria a desperdiçar uma oportunidade flagrante para fazer o segundo golo da tarde.










O Benfica passava assim para a frente do marcador, num jogo que dominou sempre mas em que estava a perder alguma tranquilidade, muito por força do nervosismo entre os adeptos que não viam a sua equipa consolidar em golos o domínio que mantinha da partida. Só que tal como já tinha acontecido com o Farense também no Estádio da Luz, o Benfica apostava em jogar apenas o suficiente, sendo muito mais reactivo, “levantando o pé” a partir do momento em que estava na frente do marcador.
António Nobre “inventou”
um penálti na área do Benfica
A vencer por 1-0, o Benfica precisava agora de fazer o segundo golo e consolidar a vantagem na partida, isto porque a vantagem mínima deixava os encarnados “a jeito” para serem surpreendidos por um lance ofensivo do Arouca. Foi isso mesmo que aconteceu ao minuto 68’, quando Otamendi e Jason se envolveram na discussão de uma posse de bola dentro da área de baliza benfiquista. A bola passa sobre o corpo do argentino depois deste fazer um carrinho, o central do Benfica não toca a bola com a mão e é o jogador do Arouca que, já perante Otamendi deitado no chão sem estar em movimento, pois já tinha deixado de escorregar na relva, atira-se claramente sobre o capitão do Benfica.
O árbitro António Nobre apontou de imediato para a marca da grande penalidade, mas alertado pelo VAR, Luís Godinho, na Cidade do Futebol, ainda foi analisar o lance através das imagens televisivas. Contudo, mesmo depois de analisado o lance por indicação do VAR, Nobre manteve a sua decisão de marcar o castigo máximo, alegando na justificação ao público no Estádio da Luz que Otamendi “rasteirou o jogador do Arouca com a cabeça”. Chamado a converter o penálti, Yalcin não tremeu, Tubin cai para o seu lado esquerdo e a bola entra a meio, ligeiramente descaída para o lado contrário, permitindo ao Arouca fazer o golo do empate no Estádio da Luz.














A precisar de vencer, Bruno Lage mantém o guião do jogo, avançando ao minuto 76’ para as entradas de Belloti e Schjelderup por troca com Florentino e Di Maria, tirando o argentino da partida quando este era um elemento com capacidade para inventar um lance a qualquer altura capaz de mudar o rumo dos acontecimentos. Não foi Di Maria a fazê-lo, mas foi sim o grego Vangelis Pavlidis, em cima do minuto 79’, a responder de cabeça a um cruzamento do lado esquerdo de Kokçu, enviando a bola para dentro da baliza de Mantl sem que este nada pudesse fazer.
O Benfica passava a vencer por 2-1 3 voltava para a frente do marcador, num jogo porventura bem mais complicado do que os 61.581 adeptos presentes nas bancadas do Estádio da Luz o esperariam.
Arouca atirou um balde de água gelada
sobre as bancadas do Estádio da Luz
Era agora a vez o técnico do Arouca, Vasco Seabra, procurar mudar algo no rumo da partida, apostando nas entradas de Weverson e Mansilla, num jogo em que o Benfica voltava a colocar a bola dentro da baliza contrária, por intermédio de Schjelderup. Os adeptos festejaram o possível terceiro golo da sua equipa, mas a partir da Cidade do Futebol surgiu a indicação de que o jovem jogador do Benfica estaria adiantado, pelo que o golo foi anulado, prosseguindo o Benfica em vantagem mas pela diferença mínima.










Pouco depois chegava a indicação de que António Nobre dera mais sete minutos nesta partida, pelo que tudo se mantinha em aberto relativamente ao desfecho do jogo. Bruno Lage tirava agora do jogo Pavlidis e Akturkoglu para as entradas de Leandro Barreiro e Bruma, e quando já nada o faria esperar eis que o Arouca conseguiu atirar um balde água gelada sobre as bancadas do Estádio da Luz. Ao minuto 90’+06’, Weverson recebeu um passe atrasado a partir da linha de fundo, recebendo a bola à entrada da área do Benfica e rematando para o segundo golo do Arouca, conseguindo desse modo empatar a partida.
Bruno Lage ainda apostou em Arthur Cabral por troca com Aursnes, o jovem Schjelderup ainda caiu na área numa disputa de bola com a defesa arouquense, mas o empate já não se desfez, acabando o Benfica por perder pontos no seu próprio terreno frente ao Arouca, com um empate a dois golos, num jogo que os encarnados dominaram, tiveram tudo para o resolver ainda no primeiro tempo, mas foram protelando, acreditando que mais cedo ou mais tarde a vitória iria chegar.
A verdade é que o Arouca nunca desarmou, veio para o relvado mais determinado na etapa complementar e com uma grande penalidade no mínimo duvidosa, a que somou alguma displicência benfiquista, acabou por empatar a partida por duas vezes, terminando o jogo com o 2-2 no marcador voltando a colocar Sporting e Benfica, por esta ordem, na frente do campeonato da I Liga com os mesmos 69 pontos, isto quando ficam a faltar cinco jornadas até ao final da competição.
Recorde-se que o Benfica terá agora que jogar na próxima semana em Guimarães, na mesma jornada em que o rival Sporting recebe em Alvalade a turma do Moreirense. Já o Arouca terá que receber na próxima jornada o Estrela da Amadora, equipa que este fim de semana perdeu no Estádio José Gomes (0-1), frente ao Farense, e precisa de pontuar para fugir aos lugares de despromoção da I Liga.








Fica assim contada a história do empate do Benfica no Estádio da Luz frente ao Arouca, um jogo do qual os encarnados só se poderão queixar da sua fraca determinação, numa partida em que deixaram sempre a ideia de que estavam convencidos de que mais cedo ou mais tarde iriam conseguir resolver as contas do jogo com um golo na baliza de Mantl. Fizeram isso mesmo por duas vezes, mas esqueceram-se que do outro lado também estava um adversário com vontade e surpreender, e colocaram-se a jeito. Tirando partido de um erro de avalização do árbitro António Nobre, que assinalou uma grande penalidade quanto a nós inexistente, o Arouca saiu do Estádio da Luz levando para casa um ponto do empate e com isso complicando as contas dos encarnados na corrida pelo título.