No último jogo da 30ª jornada da I Liga, o Benfica venceu esta segunda-feira a turma do Farense, no Estádio de São Luís, por 1-3, com golos de Kokçu, Arthur Cabral e Carreras. Pelo meio, ainda no primeiro tempo, o Farense ainda conseguiu empatar o jogo a um golo, por Belloumi, mas os encarnados dominaram o jogo, voltaram a marcar ainda no primeiro tempo, e acabaram por vencer com justiça com o terceiro golo apontado já na etapa complementar perante um Farense que não conseguiu dar uma resposta cabal aos encarnados.
Num jogo em que restava aos encarnados acumular os três pontos por uma questão de orgulho próprio, sabendo que o título, ainda que matematicamente ao seu alcance, está praticamente entregue ao Sporting, que fica com sete pontos de vantagem quando faltam quatro jogos para o fim do campeonato, os adeptos do Benfica gostaram da vitória, mas não deixaram de mostrar o seu desagrado pela forma como correu esta temporada ao Benfica de Roger Schmidt, que chegou a Faro sem perspectivas de vencer qualquer título.
Porventura por isso mesmo, no final do jogo, e já depois da equipa ter somado mais uma vitória, os adeptos benfiquistas assobiaram a sua equipa principalmente Roger Schmidt, ele que à saída do relvado foi atingido por uma garrafa e que, assumidamente, não gostou da vaia recebida, acabando por deixar um recado já na conferência de Imprensa afirmando que aqueles adeptos “não são benfiquistas”.
Schmidt atingido por garrafa diz a adeptos para ficarem em casa
Contrariado com o comportamento dos adeptos, Roger Schmidt deixou mesmo um recado para o jogo do próximo sábado, a realizar no Estádio da Luz, frente ao Sporting de Braga, convidando os que forem à Luz para criticar que fiquem em casa, um convite que Schmidt faz pela segunda vez na presente época, assumindo claramente a sua ideia segundo a qual os adeptos que não estão com ele e com a equipa será preferível que não estejam com o Benfica. Ficando contra os adeptos, o treinador do Benfica cria deste modo uma clivagem ainda mais acentuada entre ele próprio enquanto treinador do Benfica e os adeptos do clube da Luz, nomeadamente aqueles que, sendo benfiquistas, estão claramente contra a continuidade de Schmidt enquanto técnico do futebol profissional dos encarnados.
Com o título praticamente entregue ao Sporting, ainda que não desde já matematicamente, Roger Schmidt não está a conseguir encontrar um clima de coesão dentro do Benfica, isto numa altura em que para preparar desde já a próxima temporada seria aconselhável aos encarnados um ambiente bem mais pacífico.
O problema é que a continuidade de Schmidt à frente do clube da Luz é tudo menos consensual, ainda mais quando se sabe que até entre os jogadores há quem esteja na disposição de encontrar alternativas para prosseguir a sua carreira na próxima temporada fora do Benfica se o futebol dos encarnados continuar a ser gerido pelo técnico alemão. A saída de Roger Schmidt custará qualquer coisa como 20 milhões de euros ao Benfica, mas para muitos adeptos essa quantia é vista como um investimento necessário para um lançamento positivo da próxima temporada depois de uma época em que o Benfica ganhou apenas a Supertaça Cândido de Oliveira logo no início da época.
No jogo jogado, Benfica venceu de forma justificada em Faro
Com ou sem Schmidt para o próximo ano, e com ou sem adeptos descontentes nas bancadas do Estádio da Luz no próximo sábado, fica para a história a vitória dos encarnados no jogo desta segunda-feira em Faro, num jogo em que o Benfica se apresentou com Trubin entre os postes, Alvaro Carreras e Bah flancos da defesa com Otamendi e António Silva como centrais, Florentino e João Mário no meio-campo, e ainda Di Maria, Kokçu e Tiago Gouveia no apoio a Arthur Cabral. Do outro lado apresentou-se um Farense com Ricardo Velho entre os postes, uma linha defensiva formada por Talys, Gonçalo Silva, Igor Rossi e Pastor, ainda Cláudio Falcão, Fabrício Isidoro e Rafael Barbosa, num onze concluído num sector mais adiantado formado por Marco Matias, Belloumi e Zé Luís.
O Benfica entrou melhor no jogo, Kokçu, Di Maria e Arthur Cabral andaram perto de inaugurar o marcador, respectivamente aos 7', aos 10' e aos 15' minutos, mas acabou por ser o médio turco, neste jogo a ser usado nas costas do ponta-de-lança — Rafa Silva ficou no banco de suplentes —, a marcar o golo inaugural da partida ao minuto 16'. Di Maria recebeu a bola no corredor direito, permitiu a entrada de Bah pelo mesmo flanco, endossou a bola para o dinamarquês que, com um cruzamento tenso, serviu Kokçu que só teve que encostar a bola para o fundo da baliza de Ricardo Velho.
O Benfica adiantava-se no marcador e justificava a vantagem, claramente a jogar melhor perante um Farense que sentia dificuldades em conseguir organizar o seu jogo. Ainda assim, acabou por ser a equipa algarvia a repor a igualdade ao minuto 23', por Belloumi. A partir de um pontapé de canto batido do lado direito, Gonçalo Silva conseguiu cabecear a bola deixando-a ao alcance de Belloumi que, com um remate forte, bateu Anatoliy Trubin sem hipótese de defesa para o guarda-redes ucraniano do Benfica. Os adeptos do Benfica não gostaram deste golo, e se é verdade que o Benfica voltou a agarrar no jogo, acabando por vencer com justiça perante um Farense que mais fraco dentro das quatro linhas, o golo de Belloumi despertou o coro de críticas contra Roger Schmidt que prosseguiu em crescendo até a partir dali e até ao final do jogo.
Arthur Cabral marcou e foi o melhor dos encarnados em campo
Ao minuto 34', o brasileiro Arthur Cabral, jogador em quem Roger Schmidt nunca apostou de forma consistente, fez o segundo golo do Benfica, com um toque de calcanhar na resposta a um cruzamento de Bah pelo lado direito, e já no segundo tempo, depois das primeira mudanças na equipa do Benfica — entraram aos 62' David Neres e João Neves por troca com Florentino e Tiago Gouveia —, foi a vez de Alvaro Carreras fazer o terceiro golo dos encarnados neste jogo, naquele que foi o primeiro golo do lateral espanhol com a camisola do Benfica desde que chegou à Luz e, mais do que isso, o seu primeiro golo enquanto profissional de futebol.
Até ao final Arthur Cabral esteve à beira de voltar a marcar, João Neves protagonizou um choque violento com Cristian Ponde e teve que sair do jogo por precaução, entrando Aursnes, num jogo em que Schmidt ainda utilizou Marcos Leonardo e Rollheiser.
Do lado do Farense, o técnico José Mota chamou a jogo no segundo tempo Cáseres, Rui Costa, Elves Baldé, Cristian Ponde e Vítor Gonçalves, mas a história do jogo não mudou de rumo, acabando o Benfica por vencer justamente os três pontos para aquilo que Roger Schmidt acreditava que seria a festa dos adeptos encarnados. Estes, porém, mostraram estar particularmente desagradados com Schmidt, não lhe pouparam críticas e vaias, e levaram o treinador alemão a apontar a dedo aqueles que, disse, “não são benfiquistas”, aconselhando-os a ficarem em casa e a não marcarem presença no Estádio da Luz já no próximo fim-de-semana frente ao Sporting de Braga, onde pretende apenas aqueles que chamou como “adeptos positivos”.
Estão assim criadas as condições para um choque frontal entre o ainda treinador do Benfica e os adeptos do clube da Luz que, na sua maioria, como já o deixaram bem claro e mais uma vez este domingo em Faro, estão determinados em não deixar de manifestar o seu desagrado pela época “nula” em termos de títulos que agora se aproxima do fim às ordens de Schmidt.
Enquanto não se conhece a posição do presidente do Benfica, Rui Costa, também ele visado por estes protestos dos adeptos do Benfica a Schmidt, é caso para dizer que a contestação prossegue com as cenas dos próximos capítulos...
texto: Jorge Reis
fotos: ©X (twitter)
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