Com a caminhada rumo à Capital Europeia da Cultura 2027 já em marcha, a jóia que é a Casa do Alentejo pela história que possui e tudo aquilo que reúne foi o melhor cenário para dar mais alguns passos efectivos nesta missão de Évora para o seu desígnio de cidade única e verdadeira Capital Europeia da Cultura, num evento acompanhado pelo LusoNotícias. Concluídos os procedimentos formais associados à nomeação de Évora como Capital Europeia da Cultura, com a apresentação do projeto Évora_27 no Conselho da União Europeia de Educação, Juventude, Cultura e Desporto no passado dia 16 de maio, a Comissão Executiva Évora_27 e a Equipa de Missão avançam com a implementação, encontrando-se em desenvolvimento a constituição da entidade de governança responsável pela gestão e execução de Évora_27, um dos tópicos na agenda da reunião entre o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, o presidente da Cãmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá e os responsáveis da Equipa de Missão Évora_27, na qual também se abordou a definição do cronograma de financiamento e as necessidades de investimento em reabilitação e construção de infraestruturas.

Antes do verão, está prevista a assinatura de um protocolo entre o Ministério da Cultura e a Cãmara Municipal de Évora para regular o desenvolvimento do processo. Estes são os primeiros passos para a implementação de Évora Capital Europeia da Cultura em 2027 que é monitorizada pelos membros do painel de especialistas designados pelas instituições e organismos da União Europeia e pelas autoridades nacionais competentes para avaliar as candidaturas portuguesas. O painel de especialistas trabalhará com a cidade designada para garantir a qualidade CEC e oferecer apoio e aconselhamento.

No âmbito dessa monitorização, que decorre entre a designação de uma cidade como Capital Europeia da Cultura e o início do ano do seu título, estão previstas três reuniões formais entre a cidade de Évora e o painel de especialistas, estando a primeira já agendada para o outono de 2023. Antes de cada reunião, a Comissão Europeia convida a CEC a apresentar relatórios de progresso. Neste contexto, o dossié de candidatura (bid book) de seleção assume-se como um contrato entre a cidade designada, por um lado, e os seus cidadãos, o painel de especialistas, o Ministério e a Comissão Europeia, por outro. É esperado, por isso, que durante a fase de preparação e no ano do título toda a implementação de Évora_27 esteja perfeitamente alinhada com este documento-mestre, simultaneamente, mapa e compromisso, que é o bid book.

E27 CIDADE

Vagar: Uma outra arte de existência

O dossié de candidatura (bid book) contém a descrição do projeto de Évora, e do Alentejo, enquanto Capital Europeia da Cultura em 2027 contemplando diferentes dimensões, desde a articulação de Évora_27 com a estratégia a longo prazo da cidade; o programa cultural e artístico com um cronograma de execução que vai desde 2023 até 2028; a dimensão europeia; a estratégia para levar Évora_27 aos seus residentes, às escolas da região, mas também o mais longe possível; as propostas para capacitar o setor cultural e criativo, mas também a sociedade civil; o modelo de gestão e os planos para fortalecer a capacidade da cidade para realizar aquele que é o maior evento cultural da Europa. Este documento basilar resulta de um processo contínuo de auscultação do território, e de aprofundamento do conceito inspirador de Évora 2027: o Vagar transversal a todo o projeto Évora_27 com forte ressonância europeia e um orçamento global de cerca de 46 milhões de euros.

Alicerçado em três linhas temáticas – Tempo, Espaço e Matéria – o programa cultural e artístico de Évora 2027 cruza a arte e a ciência, disciplinas artísticas, artistas e públicos, local e global, para lançaar questões urgentes sobre o futuro da Humanidade, a partir do conceito de Vagar, e do seu desdobramento em múltiplas dimensões. Reconhecendo a cultura que existe no Alentejo, o programa cultural e artístico inscrito em bid book inclui 56 projetos (70% de todo o programa que será implementado em 2027) já definidos, e prevê ainda a possibilidade de integrar outros, através da abertura de quatro open calls, entre 2023 e 2025. Três open calls, com uma dotação orçamental de 3.3 milhões de euros, serão lançadas entre 2023 e 2025 especificamente para o Alentejo (18 agrupamentos escolares, festivais do Alentejo, e setor cultural local e regional), das quais serão selecionados mais 54 projetos de pequena e média dimensão. Em 2025, de modo a assegurar que o programa se mantém a par dos desafios europeus, será lançada uma open call internacional, com uma dotação de 6M de euros, da qual serão selecionados 22 projetos desenhados para pôr em relação, unindo artistas e investigadores, internacional e nacional, criadores e comunidades.

Entre os princípios que inspiram a estratégia do programa cultural e artístico de Évora 2027, está a ideia de que menos é mais, privilegiando a qualidade sobre a quantidade; a sustentabilidade, enquanto contenção e cooperação, enfatizando a diversidade cultural da Europa e promovendo a inclusão e a solidariedade; a ideia de abrir tempo e espaço para a criação, criando as condições para a reflexão e o pensamento; a união do tradicional com o contemporâneo e o desafio de repensar o património; o cruzamento entre a ciência e a arte, e a ligação dos diferentes domínios da arte é transição tecnológica, ambiental e social; o desafio de derrubar barreiras, promovendo as colaborações artísticas no encontro de várias escalas (local, nacional e internacional), levando o Vagar mais longe para testar todo o seu potencial.

E27 MONTADO

Mas para além do caminho até 2027, e do próprio ano do título, a Capital Europeia da Cultura deixará um legado para o território e os seus residentes. Se o Alentejo é um lugar de passagem, tecido na interseção entre espaço, tempo e matéria, também é lugar de permanência, tangível e intangível. Entre os projetos em construção para Évora_27, e que continuarão para além do ano do título, destaque-se o Centro Nacional para a Dança Contemporânea, o PDAP, o Centro Documental e de Interpretação da Música da Sé de Évora e a Casa dos Bonecos.

A criação do CNDC – Centro Nacional para a Dança Contemporânea transformará Évora e o Alentejo num lugar central para o passado, presente e futuro da dança contemporânea em Portugal. A ser instalado no antigo Núcleo de Seleção e Armazenagem de Sementes de Évora, o CNDC será um centro de dança contemporânea sintonizado com o presente, ainda que comprometido com uma tradição crítica e discursiva na qual o corpo é encarado como um meio para nos incitar a olhar o mundo de forma diferente. A coordenação do projeto será da responsabilidade dos internacionalmente aclamados coreógrafos Vera Mantero e João dos Santos Martins e da investigadora e curadora Liliana Coutinho.

PDAP – Projeto de Desenvolvimento Artístico e Pedagógico

Évora_27 implementará um projeto de desenvolvimento artístico e pedagógico (PDAP) nacional inspirado na herança deixada à cena teatral portuguesa pelo Centro Cultural de Évora. Criado em 1975, este centro foi a primeira escola de teatro portuguesa descentralizada. O PDAP pretende responder à necessidade de formação contínua de atores em Portugal, partindo da vontade de recolocar Évora no circuito teatral europeu.

No âmbito deste programa – que contará com a colaboração de Tiago Rodrigues, de Madga Bizarro e de Fréderic Plazy enquanto consultores, serão implementados projetos específicos de acompanhamento da construção e implementação do PDAP até 2027. Em 2027, será promovida uma conferência internacional sobre o ensino das artes performativas, tendo como base a experiência do PDAP.

E27 VIOLONCELO

Centro Documental e de Interpretação da Música da Sé de Évora

Em 2027, Évora_27 quer dar a conhecer ao público o acervo musical da Escola de Música da Sé de Évora, um dos mais importantes centros europeus da polifonia renascentista que, nos séculos XVI e XVII, formou compositores cujo trabalho se viria a difundir pela Europa e pela América do Sul. A Biblioteca Pública de Évora, o Arquivo Distrital/DGLAB e a Diocese de Évora são proprietários de cerca de 80 livros com estas composições.

Évora_27 convocou estas entidades para que trabalhem em conjunto nesta importante missão para a cidade, o país e a Europa como um todo, colaborando com investigadores académicos do CESEM – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical/Universidade Nova de Lisboa/Universidade de Évora e com a associação Eborae Musica para desenvolver este centro. A missão do Centro inclui a digitalização de peças de cerca de 13 compositores dos séculos XVI e XVII e o desenvolvimento de investigação sobre cada um dos compositores e as suas ligações ao resto do mundo, desafiando novos compositores a reinterpretar estas composições, realizando concertos a partir deste repertório, desenvolvendo programas para escolas e atraindo diversos públicos.

Casa dos Bonecos

Os antigos Armazéns da Palmeira no centro histórico da cidade de Évora, reconvertidos, acolherão a coleção de Bonecos de Santo Aleixo, tornando-se o espaço em que as pessoas poderão vir conhecer esta importante manifestação de património cultural imaterial.

A Casa dos Bonecos será também uma escola para acolher outros projetos de marionetistas, proporcionando um espaço ímpar de formação artística dentro do vasto universo da marioneta tradicional e contemporânea. O seu programa anual de formação será pensado para grupos específicos de profissionais, mas incluirá também ações para principiantes e amadores, por forma a aproximar e a desenvolver o interesse do público e dos futuros profissionais.

Com base na experiência que a associação CENDREV acumulou ao longo dos anos através da apresentação dos Bonecos de Santo Aleixo, a Casa dos Bonecos desenvolverá sólidas parcerias locais, nacionais e internacionais.

E27 A MESA

Conceito de Vagar

Importante em toda esta iniciativa é o conceito de Vagar, uma palavra que toda a gente conhece no Alentejo, considerada de tal forma identitária e, ao mesmo tempo, universal, que os responsáveis pelo projecto Évora_27 decidiram que não a iriam traduzir, sublinhando assim também a diversidade linguística europeia. Sendo um modo de ser e de estar ancestral que brota do território e que serve de alicerce à proposta de Évora_27, este Vagar está longe do estereótipo de lentidão ou preguiça a que frequentemente se vê associado. É, isso sim, um Vagar ressignificado e multifacetado, abarcando várias dimensões e camadas, lançando questões urgentes e projetando-se, até, como proposta de futuro para a Humanidade.

Um Vagar entendido como a consciência plena de que nós enquanto humanos estamos sempre em relação com tudo o que nos rodeia. Uma consciência que questiona a nossa posição de dominância e que implica coexistência, coevolução, contenção, criação e construção, espaço e tempo, memória e coletivo, assim como resiliência e tensão.

Reconhecendo assim a cultura que existe no Alentejo e os desafios que a Europa e o mundo enfrentam, Évora_27 propõe elevar o Vagar, afirmando-o como uma outra arte de existência para a Humanidade. A partir da experiência da identidade alentejana, e através de um programa cultural e artístico que cruza a arte e a ciência, artistas e públicos, local e global, Évora quer transformar-se num laboratório vivo capaz de juntar os europeus numa reflexão urgente sobre a nossa posição no mundo, mas também sobre a nossa relação com nós próprios, com os outros e com o Universo.

Um lugar que questiona, provoca, testa modelos e partilha soluções para um futuro melhor – mais sustentável, inclusivo e belo – na Europa e no mundo. E nesse impulso, pretende reabrir-se ao resto do continente europeu e do mundo, dando voz e visibilidade a este território e às suas comunidades.

Desde o início, Évora_27 tem sido um processo de cocriação “voz que anda crescendo” envolvendo o maior número possível de pessoas e entidades, como um coro que se agiganta e que ganha força no coletivo.

Évora_27: Um processo coletivo

Para desenvolver o processo de candidatura foi criada uma Equipa de Missão que implementou um amplo processo de participação, com o objetivo de sentir o pulsar do território, perceber quais as questões mais relevantes para as pessoas e as comunidades, e vertê-las no conceito e programa apresentados no bid book, cruzando várias escalas – o local, o nacional e o global – e a identidade cultural do Alentejo com a dimensão europeia.

Do conceito de Vagar que inspira e fundamenta Évora_27, é identidade gráfica em permanente construção, ao programa cultural e artístico plasmado no bid book, a proposta da Capital Europeia da Cultura nasce de um trabalho de auscultação, de discussão e de síntese, que continua em desenvolvimento, até 2027 e mais além.

Convocando as múltiplas vozes que coexistem no Alentejo, o processo participativo, intitulado “A Voz que Importa” faz parte da matriz identitária de Évora_27 e continua em andamento. Integra iniciativas emblemáticas de Évora_27, como o ciclo de workshops de design gráfico Traçando, orientado pelo atelier r2 e dirigido a vários públicos que participam na construção da identidade gráfica de Évora_27; o ciclo de minidocumentários #Sendo, que tem como objetivo divulgar e reconhecer projetos desenvolvidos no Alentejo em áreas como as artes, da ciência, a cultura e o ambiente, e os encontros À Mesa é que a Gente se Entende, nos quais a Equipa de Missão se sentou à mesa com comunidades e coletivos da cidade e da região para conversar sobre o significado, as possibilidades e as expetativas da CEC.

E27 MERCADO

Évora 27 É Évora, e É o Alentejo inteiro

Embora o título de Capital Europeia da Cultura seja atribuído a uma cidade, ele pode abranger toda uma regiáo. Este é o caso de Évora, e consequentemente do Alentejo. Anunciada em 2017, no Salão de Paris, a candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura em 2027 partiu do firme compromisso político de um conjunto de entidades do território, que se juntaram para formar a Comissão Executiva Évora 2027, liderada pela Câmara Municipal de Évora, e que integra a Direção Regional de Cultura do Alentejo, a Universidade de Évora, a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Alentejo, o Turismo do Alentejo – ERT, a Fundação Eugénio de Almeida e a Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo – ARPTA.

Évora 2027 representa a cidade e o seu território envolvente, toda a região do Alentejo, e conta também com o apoio das quatro comunidades intermunicipais do Alentejo, que representam os 47 municípios da região. Por isso, Évora_27 “É Évora”, mas também “é o Alentejo”, cada ponto nesta região imensa que corresponde a quase um terço de Portugal, estendendo-se do Atlântico até à fronteira com Espanha, em toda a sua diversidade e riqueza.

O que é a CEC?

A Capital Europeia da Cultura (CEC) é o evento cultural mais reconhecido pelos cidadãos europeus. Criada em 1985, por iniciativa da ministra da cultura grega Melina Mercouri, a CEC coloca a cultura no centro das cidades europeias, e da vida das pessoas, para celebrar a arte e a diversidade cultural europeia ao longo de um ano. Das cidades CEC espera-se que vivam uma transformação profunda. Nos últimos anos, a iniciativa tem evoluído e vai muito para além do ano do título, procurando contribuir para a construção a longo prazo de um projeto estruturante de transformação da cidade e da região, nomeadamente, do seu ecossistema cultural e criativo. Neste sentido, a CEC permite aprofundar o que nos torna únicos, mas também o que nos liga enquanto cidadãos europeus.

Évora e o Alentejo serão Capital Europeia da Cultura em 2027. Depois de Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012), esta será a quarta vez que uma cidade portuguesa recebe o título, acolhendo o maior evento cultural da Europa. Durante muito tempo, a cidade distinguida com o título de Capital Europeia da Cultura era proposta pelo governo de cada país, mas atualmente qualquer cidade pode iniciar o processo de candidatura por iniciativa própria. A escolha da cidade vencedora é feita por um júri composto por doze peritos independentes, dez dos quais nomeados por instituições e órgãos europeus e dois membros nomeados pelo Ministério da Cultura português.

Pela primeira vez, em Portugal, a cidade indicada para representar o país foi selecionada desta forma, depois de um processo de candidatura longo e complexo, dividido em duas fases, e que incluiu a preparação de duas versões do dossié de candidatura (bid book), audiências com o júri e uma visita à cidade. Num processo inédito e concorrencial, mas também marcado por um espírito de cooperação, das 12 cidades portuguesas que inicialmente se candidataram foram selecionadas quatro – Aveiro, Braga, Évora e Ponta Delgada – que passaram à fase final. Esta lista restrita foi revelada em março de 2022 e a 07 de dezembro de 2022 a decisão final, que dava a Évora o título de Capital Europeia da Cultura em 2027, foi anunciada em Lisboa.

Em 2027, Évora não estará sozinha. Isto porque como acontece todos os anos, o título de Capital Europeia da Cultura é atribuído pela Comissão Europeia a duas cidades da Europa de dois países diferentes. Em 2027, a par de Évora, Liepāja, na Letónia, será Capital Europeia da Cultura. Évora 2027, Capital Europeia da Cultura, é promovida pela Comissão Executiva Évora 2027, liderada pela Câmara Municipal de Évora. Esta Comissão Executiva é ainda constituída pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, Universidade de Évora, Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Alentejo, Turismo do Alentejo – ERT, Fundação Eugénio de Almeida e Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo – ARPTA. Évora 2027 conta com apoio das quatro comunidades intermunicipais do Alentejo que representam os 47 municípios da região.

fotos: Fu Qiang / Évora_27
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