Sem honra nem glória. O Benfica despediu-se da ‘Champions’ com outra derrota e somou novas dúvidas sobre as reais capacidades do grupo às ordens de Rui Vitória . Para lá dos números, demolidores, e da desconfortável condição de pior equipa portuguesa na fase de grupos da mais importante prova da UEFA, o jogo desta terça-feira acabou por ser um retrato fiel das debilidades que têm acompanhado a equipa desde o início da temporada.
A sexta derrota em outros tantos jogos da Liga dos Campeões podia ter deixado apenas indicações sobre uma qualquer aversão a confrontos internacionais, colocando o Benfica na posição, já de si inadmissível, de equipa destinada apenas a ‘consumo interno’. Acontece que essa frente interna, a única disponível até Maio, vai exigir muito mais do que os obstáculos construídos por um Basileia pragmático, tranquilo e relativamente cínico – um cinismo, se quisermos, à italiana.
Rui Vitória podia ter escolhido o ‘melhor onze’, talvez aquele que foi ao Dragão na sexta-feira, assumindo que era importante fechar a ‘Champions’ com um triunfo que, ao menos, servisse para limpar a imagem. Não foi assim. O treinador do Benfica quis dar oportunidades, apelando eventualmente ao brio e à vontade de jogadores menos utilizados. Nada ou quase nada funcionou.
É verdade que as estatísticas do jogo com os suíços indicam o Benfica como a equipa mais rematadora e aquela com maior posse de bola (expressivos 64%), mas os resultados práticos foram nulos. Vitória insistiu no desenho 4x3x3 (parece mais um estranho 4x1x4x1), com Seferovic sozinho na frente, supostamente à espera dos serviços de Zivkovic na direita e Diogo Gonçalves na esquerda, funcionando Pizzi e João Carvalho como organizadores e Samaris nas funções normalmente desempenhadas por Fejsa.
O esquema, alterado depois no 2.º tempo com a troca de Diogo Gonçalves por Jonas (ficou no apoio ao suíço), esbarrou sempre na organização do Basileia. Uma organização que privilegiou sempre a proteção da baliza (linha recuada de 5 homens quando defendia) e que, em vantagem desde muito cedo, não teve qualquer problema em entregar o ‘domínio’ ao adversário.
Os encarnados, embora conseguindo alguns remates e procurando variar o jogo, como que bateram numa parede, faltando imaginação, velocidade e soluções de verdadeiro envolvimento junto à área do Basileia. Seferovic raramente foi capaz de libertar-se da sombra Akanji e quando a bola lhe chegava não havia depois aproximação do meio campo para apoiar os esforços do avançado suíço. O jogo foi pastoso, arrastado, teve até momentos confrangedores, muito em função da forma como o Benfica não mostrava capacidade para ligar os setores.
Sim, a equipa de Rui Vitória assinou mais de duas dezenas de remates. Alguns até foram perigosos. Mas tudo pareceu sempre em esforço e prejudicado por algumas unidades em sub-rendimento. Está fechada a participação na ‘Champions’ e pode agora o Benfica dizer que o foco está (já estava…) no campeonato. Sucede que a noite de terça-feira disse também que as chamadas ‘segundas linhas’ não parecem à altura das exigências. E se a ‘Champions’ não motiva um jogador, então nada o fará.
texto: Paulo Renato Soares
fotos: Luís Moreira Duarte
Ficha técnica: Benfica — Svilar; Douglas, Lisandro López, Jardel e Eliseu; João Carvalho, Samaris (André Almeida, 74') e Pizzi (Gabriel Barbosa, 74'); Zivkovic, Seferovic e Diogo Gonçalves (Jonas, 62') Acção disciplinar: cartões amarelos para Akanji (63'), Samaris (68') e Petretta (75') Marcador: Árbitro: Jesús Gil Manzano (Espanha) |