Perante cerca de 30 mil adeptos brasileiros que permitiram nas bancadas do Estádio de Alvalade um espectáculo único de apoio à selecção do Brasil, esta acabou por perder o jogo amigável disputado naquele recinto frente à selecção do Senegal (2-4), num jogo em que a turma brasileira até foi a primeira a marcar mas no qual uma exibição nada consistente e muito menos objectiva ou eficaz resultou na derrota consentida com mérito para o trabalho e a melhor organização da formação senegalesa, na qual elementos como Koulibay, Mendy e Sadio Mané, principalmente este último, revelaram-se determinantes para justificar o resultado de um jogo que se resumiu numa enorme festa para a comunidade brasileira a viver em Portugal que assim teve uma oportundiade porventura única de ver o seu “escrete” ainda que o marcador final não lhe tenha sido favorável.

Oa cerca de trinta mil adeptos, na sua grande maioria (ou mesmo quase totalidade) vestidos com as cores do Brasil, permitiram um espectáculo ímpar, porventura até mais entusiasmante fora das quatro linhas do que no relvado onde as duas equipas acusaram a fadiga própria do final de temporada.

À espera de conhecer o seu próximo seleccionador, que tudo indica que será Carlo Ancelotti, para já ainda ligado ao Real Madrid, o Brasil chegou a Lisboa orientado por Ramon Menezes, com um “onze” em que a grande ausência foi a de Neymar, e em que o guarda-redes Alisson, lesionado, deu o seu lugar a Ederson, ele que voltou assim ao Estádio de Alvalade, o mesmo recinto em que se estreou ao serviço do Benfica há muitos anos atrás quando chegou à Europa pela porta do clube da Luz.

Assim, e para além de Ederson, o Brasil apresentou um quarteto defensivo formado por Danilo Luíz, Éder Militão, Marquinhos e Ayrton Lucas, ainda Joelinton, Bruno e Lucas Tolentino, e na frente Richarlison apoiado por Malcolm e Vini Jr. a partir das alas. Já o seleccionador senegalês Aliou Cissé apresentou uma formação com nomes bem conhecidos do futebol europeu, um conjunto experiente assente em alguns elementos determinantes mas todos a mostrarem muito querer e a dar mesmo a ideia de que tinham que dar tudo em campo mesmo num jogo tido como “amigável”.

Apresentando-se no terreno com um clássico 4x3x3, a turma do Senegal surgiu formada por Diaw na baliza, uma linha defensiva formada por Sabaly, Koulibaly, Niakhate e Jakobs, três elementos na linha média — Ciss, Mendy e Gueye — e ainda Diallo, Sarr e Sadio Mané como os homens mais adiantados junto da baliza de Ederson.

Num jogo particular em que o adversário a combater por todos, dentro e fora do relvado, era o racismo, aparecendo mesmo diversas faixas apelando à luta contra o racismo nos lugares normalmente ocupados pelos placares publicitários, o resultado acabava por ter naturalmente a sua importância, em primeiro lugar porque ninguém pretenderia perder este jogo por uma questão de orgulho próprio, e em segundo lugar, nomeadamente no que diz respeito ao Brasil, a massa humana nas bancadas reclamava exactamente um bom resultado da sua equipa.

“Empurrado” pelo seu público, o Brasil entrou melhor no jogo e conseguiu mesmo fazer o golo inaugural da partida, ao minuto 11', por Lucas Paquetá, na resposta a um cruzamento daquele que é por esta altura a grande estrela da selecção brasileira, Vini Júnior. Cruzada a bola a preceito, Paquetá saltou sem oposição para um cabeceamento perfeito, para um golo sem hipóteses de defesa para Diaw.

Dois minutos depois, Richarlison quase fazia o 2-0, mas à passagem do primeiro quarto de hora surgia o primeiro aviso para a turma do Brasil. Vini Jr., junto à sua baliza, pisou de forma descuidada um jogador do Senegal e o árbitro da partida, o português Gustavo Correia assinalou de imediato a grande penalidade contra o Brasil. Valeu no entanto ao conjunto brasileiro a análise do VAR que deu conta de um posicionamento irregular de um jogador do Senegal antes do pisão de Vinícius pelo que a grande penalidade não foi marcada, mas fica o aviso para a possibilidade da formação africana poder chegar com perigo à baliza de Ederson. E se bem o ameaçou, melhor o conseguiu ao minuto 22 quando Diallo aproveitou uma bola mal defendida dentro da grande área do Brasil para encher o pé com um remate em força a fazer o golo do empate.

Os adeptos do Brasil nunca deixaram de apoiar a sua equipa, mas a verdade é que o Senegal passou a controlar os acontecimentos, levando o jogo até ao intervalo com o empate no marcador mas sempre com um enorme equilíbrio, conseguindo mesmo maior eficácia nas transições para o ataque, quando o Brasil acusava alguma tremideira e pouca consistência defensiva.

E se no primeiro tempo o Senegal deu conta de que poderia fazer mais e melhor, cumpriu isso mesmo na etapa complementar, desde logo aos 52 minutos, num lance em que Sadio Mané tentou assistir para a entrada de um seu companheiro na pequena área da baliza de Ederson, aparecendo aí Marquinhos a impedir o desvio a Sarr mas acabando por fazer ele próprio um auto-golo que colocou o marcador em 2-1 para a turma senegalesa.

Dois minutos depois, e na sequência de uma enorme defesa de Ederson, a bola voltou para a entrada da área onde apareceu o suspeito do costume na selecção do Senegal, Saio Mané, com um remate simplesmente perfeito a fazer a bola entrar no ângulo mais distante da baliza brasileira, colocando as contas a favor do Senegal em 3-1, perante uma selecção do Brasil que não se encontrava, não conseguia ligar o seu jogo e acusava alguma debilidade defensiva pouco comum no escrete.

A verdade é que o Brasil não baixou os braços, até porque tinha também argumentos válidos para ambicionar um resultado mais positivo, e três minutos depois do golo de Mané foi a vez de Marquinhos, o mesmo que havia feito um autogolo na sua baliza, a conseguir agora o golo mas na baliza do Senegal, com um remate em arco a bater Diaw e a voltar a colocar em êxtase toda a torcida brasileira que por essa altura ainda acreditava que era possível dar a volta ao resultado como o conjunto africano havia feito anteriormente.

Só que o Senegal mostrou então uma boa organização, jogando todos os seus trunfos contra uma formação brasileira que não encontrou argumentos para se superiorizar na partida. Ramon Menezes ainda apostou em alguns jogadores que trouxeram outra frescura e outras ideias à formação verde e amarela, nomeadamente Pedro, Alex Telles e Ronielson, mas o Senegal manteve o comando do jogo, terminando mesmo a partida com o quarto golo, na transformação de uma grande penalidade convertida por Sadio Mané depois um lance em que Ederson derrubou Jackson aos 90'+05'.

O Senegal acabou assim por vencer por 4-2 frente à selecção do Brasil, os adeptos que fizeram uma festa permanente nas bancadas do Estádio José de Alvalade, mesmo depois de verem a sua selecção derrotada, não deixaram de apoiar os seus craques, e apenas Richarlison ouviu algumas vaias quando saiu no segundo tempo pela forma algo displicente como jogou.

A vaia a Richalison, aliás, acabou assim por ser também uma vaia transformada num castigo à turma brasileira pela exibição fraca que assinou em Alvalade num jogo que valeu pelos seis golos apontados pelas duas equipas, pela festa a partir das bancadas, e pela mensagem sem dúvida de enaltevcer e repetir CONTRA O RACISMO, afinal o mote deste jogo amigável entre Brasil e Senegal que terminou com o triunfo senegalês por 4-2.

crónica: Jorge Reis
fotos: Diogo Faria Reis
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